Entregadores de app: pesquisa revela que 72% não contribuem com a previdência e 41% já sofreram acidentes

Segunda, 7 de abril de 2025

Sete em cada dez (72%) entregadores de comida por aplicativo do Rio de Janeiro e São Paulo não realizaram contribuições previdenciárias no ano passado. Esse dado revela uma situação de vulnerabilidade dos trabalhadores, especialmente porque 66,6% são os principais responsáveis pela renda da família e 41% já sofreram acidentes de trabalho.

A preocupação não reside, no entanto, apenas na possibilidade de um sinistro. Mesmo trabalhando muito, três em cada dez entregadores vivem atualmente em situação de insegurança alimentar. Os números são de uma pesquisa inédita da Ação da Cidadania, que aponta o perfil da categoria.

Sem proteção previdenciária

Segundo o levantamento, em 16% dos casos de acidentes sofridos pelos entregadores, houve afastamento das atividades profissionais.

Rodrigo "Kiko" Afonso, diretor-executivo da Ação da Cidadania, aponta que as empresas de aplicativos de entrega não dão assistências a seus colabores, que dependem de assistências sociais, como o Benefício de Prestação Continuada (BPC/Loas), e de serviços públicos, como o Sistema Único de Saúde (SUS):

– Com esse modelo de relação trabalhista, o Estado acaba financiando o lucro da empresa, porque ela não está pagando por esses serviços essenciais para os trabalhadores. Ou seja, as empresas deveriam estar sendo responsabilizadas por questões trabalhistas e previdenciárias.

 

Fome na rotina intensa

 

A rotina desses trabalhadores é intensa: dos 1.700 entrevistados, 56,7% trabalham todos os dias e 56,4% passam mais de nove horas por dia nas ruas. Para 91,5% deles, essa é a ocupação principal, e mais de 86% não exercem nenhuma outra atividade profissional.

Mesmo dedicando tanto tempo ao trabalho, 32% têm dificuldades para garantir uma alimentação adequada. E 13,5% vivem em restrição alimentar moderada ou grave, um índice superior à média nacional de 9,4%.

Os custos da profissão ajudam a explicar esse cenário. Quase todos os entrevistados (99%) pagam do próprio bolso o plano de dados para acessar o aplicativo de entregas. A maioria (93,4%) não tem seguro para o celular.

Dessa forma, os custos com ferramentas de trabalho recaem exclusivamente sobre o entregador, que ainda precisa arcar com despesas fixas de moradia e alimentação.

Para Kiko, os entregadores acabam aceitando essas condições de trabalho por uma falsa sensação de liberdade de horário e de produção.

– Essas pessoas se sentem livres em relação a horário, mas elas não percebem que, para conseguir tirar algum dinheiro, precisam trabalhar todos os dias — avalia.

Publicado em O Extra