Empreendedorismo jurídico - O novo perfil do profissional jurídico

Quinta, 21 de março de 2019

O perfil conservador e formal, já há muito tempo conhecido, do profissional jurídico, está com os dias contados. O contexto atual insere a figura jurídica como essencial aos negócios e figura fundamental para a tomada de decisões tanto na esfera particular quanto na esfera empresarial.

Busca-se um maior aperfeiçoamento na área, com profissionais que tenham maior abertura à visão sistêmica do negócio, englobando diversas áreas, como a administrativas, financeira e tecnológica e de recursos humanos, pois cabe também ao líder jurídico a gestão de pessoas, técnicas e habilidades financeiras, planejamento orçamentário, redução de custos, alta performance, comunicação integrada, ou seja, requer a figura de um advogado empreendedor.

Estamos diante de uma nova vertente da atividade jurídica. Os grandes e pequenos negócios requerem a avaliação das implicações jurídicas no core business de cada cliente específico. O profissional do direito deve ampliar a sua visão para o conhecimento detalhado do negócio, do mercado correspondente, do modelo econômico e da atividade tecnológica necessária.

As bancas de advocacia, assim como os departamentos jurídicos de corporações devem ser inseridos e direcionados ao compartilhamento de informações e de atuação com as demais áreas estratégicas das empresas dos clientes, pois muitas vezes negócios são iniciados sem um maior estudo do impacto de tal atividade junto às esferas do consumidor, políticas sociais, responsabilidade ambiental e social.

A atuação jurídica requer cada vez mais métodos estratégicos de prevenção e, para isso, deve estar integrada ao objetivo do negócio e com todos os demais processos internos corporativos, cabendo ao profissional assumir uma função executiva e de gestão do negócio, e não apenas como um solucionador de conflitos e litígios dos quais não participou.

Assim como no meio da medicina especializada não basta mais ao profissional médico o conhecimento das causas, sintomas e medicações de doenças orgânicas, mas também requer uma análise mais minuciosa das implicações do estilo de vida do paciente, de problemas psicológicos, emocionais e de hábitos que contribuem para o quadro sintomático, não basta também ao profissional do direito se ater apenas às teses jurídicas e jurisprudenciais, pois a necessidade de maior conhecimento do próprio funcionamento do negócio e dos seus setores diferenciados lhe traz maior confiança e alternativas de atuação para medidas preventivas e de solução de conflitos.

A figura profissional requerida hoje tanto por empresas quanto por pessoas físicas, no mundo da advocacia, requer o advogado orientador, conselheiro, mediador, negociador e condutor de negócios, em diversos segmentos e graus de atuação.

A formação acadêmica e cursos de especialização ainda são muito conservadores e focados nas próprias regras do direito, faltando ao profissional um maior know how e jogo de cintura em questões diversas.

O profissional de direito hoje deve gerar valor ao negócio e não apenas resolver problemas, deve ter atuação e formação sistêmica.

A globalização, a reivindicação de direitos e consumidores mais exigentes levaram, especialmente no ramo bancário e de telecomunicações, demandas massificadas ao Poder Judiciário, cuja atuação poderia ser reduzida caso os profissionais, tanto de bancas de advocacia como os corporativos, buscassem uma atuação preventiva estratégica, visando à redução de contingências pautadas por consumidores mais atentos e exigentes, e fornecedores que pecam na avaliação de riscos em lançamentos de produtos e serviços, sem as devidas cautelas.

Enxurradas de ações poderiam ser evitadas mediante a avaliação prévia de riscos potenciais, ou, até mesmo, através de uma análise das causas que geraram os prejuízos já efetivados, direcionando empresas e serviços a atuarem com maior precaução e observação dos efetivos potenciais.

Novas demandas têm aberto um maior campo de atuação para os profissionais de direito, na medida em que matérias especializadas abrem a necessidade de direcionamentos específicos de ramos do direito, como direito hospitalar, de negócios, direito genético, direito do turismo, direito agrário, direito humanitário entre tantos outros, fator que demanda maiores especializações, novas vertentes que surgem em virtude de uma maior qualidade e observações criteriosas dos consumidores e do mundo econômico.

A informatização dos serviços do Poder Judiciário obrigou as bancas de advocacia e departamentos jurídicos a investirem pesado no setor de tecnologia e abriu espaço também a um maior controle de conduções processuais, índices de êxito e qualidade nos serviços prestados pelos clientes, que podem acompanhar as providências e resultados mediante simples acesso aos sites dos Tribunais.

Tal avanço impõe maior celeridade e qualidade nos serviços jurídicos propostos, além de uma maior organização e controle de dados.

O campo de atuação jurídico hoje requer condutas interdisciplinares, exigindo do profissional um aperfeiçoamento constante em matérias diversas e especializadas, que exigem um grau de atuação e de conhecimento do negócio distinto da atuação dos profissionais constantes de uma era mais conservadora.

 

 

Por: Milena Moratti - Consultora especialista em gestão dos serviços jurídicos na Hipólito & Associados Consultoria. Advogada especialista nas áreas cível e empresarial. Graduada pela UNIP, com MBA em Gestão Empresarial pelo IBMEC/ RJ e em Gestão de Recursos Humanos pelo Complexo Educacional FMU. Sólida experiência por mais de 12 anos atuando em Gerências Jurídicas.

 

 

Fonte: https://milena41.jusbrasil.com.br/artigos